FLÁVIO BOLSONARO CANDIDATO: O BOLO, A CEREJA E OS CONFEITEIROS DA FARIA LIMA
A escolha de Jair Bolsonaro por Flávio como candidato à presidência garante uma eleição entre adversários, não entre compadres
A profecia ignorada
Olavo de Carvalho escreveu em 2016, dois anos antes de Bolsonaro vencer a eleição que o transformaria em mártir nacional, uma sentença que seus críticos preferiram ignorar e que seus admiradores ainda não compreenderam por completo: “Eleger um presidente sem levar isso em conta é o mesmo que puxar a cereja na esperança de com isso trazer o bolo junto.” Abordei isso no nosso último artigo abaixo:
QUEM CRITICA BOLSONARO CRITICA A CEREJA, NÃO O BOLO
Há um tipo peculiar de cegueira que acomete certas inteligências. Não é a cegueira do ignorante, que desconhece por falta de acesso à informação. É a cegueira do homem que, diante de um incêndio, critica o bombeiro por ter molhado o tapete. Enxerga o detalhe, ignora a catástrofe. Vê a cereja, mas finge não ver o bolo.
A metáfora era cruel porque era precisa. O bolo representa as instituições, a cultura, a academia, o judiciário, a mídia, a burocracia estatal, os sindicatos, as igrejas aparelhadas, as ONGs, as fundações, as editoras, as universidades, os centros de pesquisa, os conselhos profissionais, os órgãos de classe. A cereja representa a Presidência da República. Um governo de direita sem domínio do bolo é uma cereja flutuando no ar, condenada a cair assim que os confeiteiros resolverem sacudir a mesa.
Foi exatamente o que aconteceu.
O pânico da Faria Lima
O anúncio de que Flávio Bolsonaro será o candidato presidencial do campo bolsonarista em 2026 provocou reações reveladoras. O Ibovespa caiu 4,31% no mesmo dia. O dólar subiu 2,34%. Analistas do mercado financeiro declararam que as chances de Flávio eram “irrisórias”. A elite da Faria Lima suspirou em uníssono e murmurou o nome que preferia: Tarcísio.
Ora, por que uma parcela da direita brasileira, supostamente aliada no combate ao lulopetismo, reagiria com tamanho desespero à candidatura de um senador conservador, experiente, juridicamente elegível, com 22 anos de vida pública e o sobrenome mais poderoso da direita nacional? A resposta é simples: porque essa parcela nunca quis derrotar o sistema. Queria apenas administrá-lo.
A direita que critica a cereja
Existe uma direita que critica Bolsonaro. Não a esquerda travestida de centro. Não o petismo. Não o lulopetismo histórico. Uma direita que se apresenta como tal, que se diz liberal, que defende mercado, que fala em responsabilidade fiscal, que frequenta os mesmos jantares da elite paulistana há três gerações. Essa direita critica a “falta de articulação” de Bolsonaro, seus “excessos retóricos”, sua “incapacidade de diálogo institucional”. Essa direita queria Tarcísio.
O que essa direita nunca menciona é o bolo.
Quando critica a cereja, essa direita silencia sobre os confeiteiros. Não denuncia o aparelhamento secular das universidades. Não questiona o financiamento estrangeiro das ONGs ambientais. Não investiga os 781 milhões de reais que a Open Society, de George Soros, despejou no Brasil entre 2016 e 2024. Não examina os 880 milhões da USAID destinados à “proteção ambiental” durante o governo Biden. Não escrutina a Ford Foundation, a Rockefeller Foundation, a Gates Foundation, todas operando em território nacional com agendas próprias e prestação de contas a ninguém.
Essa direita critica a cereja porque é sócia dos confeiteiros.
Os três globalismos e o Brasil como espólio
Olavo identificou três projetos globalistas em disputa pelo controle do mundo: o atlântico-ocidental, operando via Bilderberg, Council on Foreign Relations e elites financeiras; o eurasiano, russo-chinês, usando o Foro de São Paulo como vetor de penetração na América Latina; e o islâmico, avançando por migração, investimentos financeiros e infiltração terrorista. Os três convergem num ponto: nenhum deles quer nações soberanas, povos livres, famílias estruturadas ou igrejas independentes. Querem mercados consumidores dóceis e populações administráveis.
O Brasil é disputado pelos três simultaneamente. Capital chinês compra infraestrutura. Capital árabe compra frigoríficos e bancos. Capital americano financia ONGs e controla narrativas. E, no meio desse tabuleiro geopolítico, a elite da Faria Lima acha que a questão central de 2026 é saber se o candidato presidencial da direita terá “trânsito” com o mercado.
Trânsito com qual mercado? O mercado que lucra com juros estratosféricos? O mercado que especula contra a moeda nacional? O mercado que financia campanhas de ambos os lados para garantir que, ganhe quem ganhar, os mesmos interesses serão preservados? Esse mercado não quer Flávio Bolsonaro pela mesma razão que não queria Jair Bolsonaro: porque os Bolsonaros representam a possibilidade, ainda que imperfeita, de um governo que não seja controlado pelos confeiteiros.
O diretório acadêmico e a Presidência da República
Em entrevista à BBC em 2016, Olavo foi questionado sobre como a direita deveria combater a expansão da esquerda. Sua resposta escandalizou os apressados: a direita deveria se concentrar em ocupar espaços “não no Estado, mas na igreja, nas escolas, nas sociedades de amigos do bairro, no clube”. Ocupar um diretório acadêmico de universidade pública, dizia ele, era mais importante que ocupar a Presidência da República.
A frase parecia absurda. Era profética.
A esquerda brasileira levou quarenta anos construindo o bolo antes de alcançar a cereja. Ocupou departamentos universitários nos anos 1970. Tomou sindicatos nos anos 1980. Infiltrou-se nas igrejas com a Teologia da Libertação. Capturou redações de jornal. Colonizou ministérios públicos. Povoou tribunais. Só depois, com o terreno preparado, lançou Lula à Presidência em 2002. E quando Lula caiu, o bolo permaneceu intacto. Quando Bolsonaro venceu, o bolo já estava pronto para devorá-lo.
A direita fez o caminho inverso. Quis a cereja primeiro. Conseguiu-a em 2018. E descobriu que uma cereja sem bolo não se sustenta.
O mundo mudou
Agora, porém, algo mudou. E é preciso ter olhos para ver.
O mundo de 2026 não será o mundo de 2022. Donald Trump retornou à Casa Branca. Javier Milei governa a Argentina. Netanyahu consolidou-se em Israel. Uma rede internacional de líderes conservadores, pela primeira vez em décadas, ocupa posições de poder real. O complexo industrial de censura, tão eficaz em 2020 e 2022, está sendo desmontado nos Estados Unidos. O próprio Alexandre de Moraes, czar da censura tropical, foi sancionado pelo Departamento de Estado americano sob o Magnitsky Act.
O FBI que treinava o TSE agora investiga as próprias práticas de interferência eleitoral. As plataformas que baniam conservadores agora são dirigidas por aliados de Trump. O Twitter que suspendeu Bolsonaro agora é o X de Elon Musk, que bloqueou ordens de censura do STF e expôs ao mundo o funcionamento do sistema brasileiro de controle da informação.
A correlação de forças internacional favorece, pela primeira vez, quem enfrenta o sistema. Não quem negocia com ele.
Por que Flávio e não Tarcísio?
Tarcísio de Freitas é um bom governador. Sua gestão em São Paulo demonstra competência administrativa. Sua formação técnica inspira confiança no mercado. Suas credenciais militares agradam à caserna. Seu discurso moderado tranquiliza os que temem radicalismo. Por que, então, Jair Bolsonaro escolheu Flávio?
Porque Tarcísio, para governar São Paulo, fez acordos. Acordos com Kassab. Acordos com o tucanato remanescente. Acordos com a elite paulistana que há um século controla o estado como feudo privado. Acordos que, numa campanha presidencial, seriam cobrados com juros e correção.
Tarcísio pode ser um excelente candidato a presidente. Pode até vencer uma eleição. Mas venceria uma eleição entre adversários ou uma eleição entre compadres? Derrotaria o sistema ou seria absorvido por ele? Desmontaria o bolo ou apenas trocaria alguns poucos confeiteiros?
A escolha de Flávio Bolsonaro responde a essas perguntas antes que sejam formuladas. Flávio carrega o sobrenome que o sistema mais odeia. Flávio representa continuidade ideológica, não acomodação pragmática. Flávio garante que, se a direita vencer em 2026, será uma vitória contra o establishment, não uma vitória negociada com ele.
O mercado reagiu com pânico porque entendeu a mensagem. A Faria Lima preferiu Tarcísio porque Tarcísio poderia ser controlado. Flávio, não.
Tarcísio em São Paulo: o lugar certo
E Tarcísio?
Tarcísio deve disputar a reeleição em São Paulo. E deve vencê-la. Mas deve vencê-la como bolsonarista, não como candidato da Faria Lima. Deve usar os próximos meses para se afastar da elite liberal e tucana que o corteja.
São Paulo é o maior colégio eleitoral do Brasil. Um governador aliado em São Paulo, com a máquina estadual funcionando a favor do candidato presidencial, multiplica exponencialmente as chances de vitória. Tarcísio reeleito em São Paulo e Flávio candidato à Presidência não são estratégias excludentes. São complementares.
O que Tarcísio não pode fazer é tentar ser duas coisas ao mesmo tempo: bolsonarista para a base e palatável para a Faria Lima. Essa ambiguidade funcionou em 2022, quando Bolsonaro era o candidato e Tarcísio, o aliado. Não funcionará em 2026, quando a escolha estiver definida e os campos demarcados.
Os acordos com o centrão tucano-kassabista, com os braços dos globalistas em São Paulo, com as elites liberais que operam há mais de um século no Brasil precisam ser revistos. Ou Tarcísio está com a direita que enfrenta o sistema, ou está com a falsa direita que o administra. Não há terceira via.
O bolo que podemos assar
Olavo tinha razão quando dizia que a política é subproduto da cultura. Tinha razão quando apontava que sem hegemonia cultural o poder político é frágil. Tinha razão quando previa que Bolsonaro enfrentaria resistência institucional implacável. Mas Olavo também dizia que o trabalho era de gerações. Quarenta, sessenta anos.
Esse é jogo de longo prazo, que continuará sendo jogado. Mas no curto prazo, temos até outubro de 2026 para tentar acelerar esse processo. Se é que isso será possível.
A pergunta, portanto, não é se conseguiremos construir o bolo antes da eleição. Não conseguiremos.
A pergunta é: podemos conquistar parte do bolo enquanto disputamos a cereja?
A resposta é sim. E a candidatura de Flávio Bolsonaro facilita essa estratégia.
Flávio é senador. Conhece o Congresso. Articula com governadores. Dialoga com prefeitos. Sua campanha presidencial não será uma candidatura solitária como foi a de seu pai em 2018. Será o topo de uma pirâmide que inclui candidaturas ao Senado, à Câmara, às assembleias legislativas. Cada voto em Flávio será um voto na construção do bolo legislativo. Cada deputado eleito na esteira de sua candidatura será uma fatia a mais de bolo para a direita.
Se conquistarmos a cereja, ótimo. Se não conquistarmos, mas aumentarmos nossa fatia do bolo, ainda assim teremos avançado. A vitória não é apenas o Palácio do Planalto. A vitória é cada centímetro de terreno institucional que a esquerda não controla mais.
As pesquisas e seus limites
O Datafolha diz que Flávio perderia para Lula por 15 pontos. O mesmo Datafolha dizia, em 1988, que Luiza Erundina estava em terceiro lugar em São Paulo. Ela venceu. O mesmo Datafolha dizia, em 1989, que Lula estava em quarto lugar. Ele chegou ao segundo turno.
Pesquisas eleitorais no Brasil não são fotografias. São armas. Servem para desestimular adversários, desmobilizar bases, induzir votos úteis. Os institutos que as produzem são financiados pelos mesmos grupos econômicos que preferem Tarcísio a Flávio. Estranho seria se dissessem o contrário.
A um ano da eleição, pesquisas medem reconhecimento de nome, não intenção de voto. Flávio Bolsonaro é menos conhecido nacionalmente que seu pai, que Lula, que Tarcísio. Isso mudará conforme a campanha avançar. Conforme os debates acontecerem. Conforme o eleitor for forçado a escolher entre dois projetos de país, não entre dois nomes.
E quando esse momento chegar, a pergunta será simples: você quer o Brasil governado pelo PT e seus aliados, ou governado pela direita que enfrentou o sistema e pagou o preço por isso?
Já abordamos aqui, inclusive em reportagens especiais, como as casas de pesquisa funcionam. Vale a leitura:
EXCLUSIVO: DATAFOLHA SE SUBMETE À REDAÇÃO DA FOLHA DESDE O INÍCIO DE 2022
Em janeiro desse ano, uma grande crise começou dentro da Folha. Quem informa são quatro fontes confidenciais de O Editorial que acompanharam os bastidores e tudo o que vem acontecendo no Datafolha.
O lawfare e como enfrentá-lo
Jair Bolsonaro está preso. Condenado a 27 anos por “tentativa de golpe”. Inelegível por decisão do TSE em ação movida pelo PDT, partido satélite do Foro de São Paulo e proxy partidário da China. O sistema demonstrou, com ele, o que é capaz de fazer contra quem o desafia. A pergunta óbvia é: por que não fariam o mesmo com Flávio?
Farão. Ou tentarão fazer.
O caso das “rachadinhas”, arquivado em 2021 após o STF anular as provas e rejeitado definitivamente por Gilmar Mendes em 2025, será ressuscitado na mídia. Novas denúncias serão fabricadas. Vazamentos seletivos ocorrerão em momentos estratégicos. A Polícia Federal, o Ministério Público, o Judiciário serão mobilizados. O complexo industrial de censura, ainda operante no Brasil apesar do desmonte internacional, tentará controlar a narrativa.
A diferença é que, desta vez, haverá contra-ataque.
Trump demonstrou que o lawfare pode ser enfrentado e vencido. Demonstrou que condenações podem ser revertidas. Demonstrou que o eleitor, quando percebe a natureza política da perseguição, reage votando no perseguido. Demonstrou que aliados internacionais podem expor e constranger os perseguidores.
Flávio Bolsonaro não enfrentará o sistema sozinho. Terá o apoio de uma rede internacional de líderes e organizações que combatem o mesmo inimigo. Terá a proteção de um movimento popular que já viu seu líder ser preso e não se desmobilizou. Terá a vantagem de disputar contra um governo Lula desgastado, envolto em escândalos, incapaz de entregar o que prometeu.
O lawfare funciona quando a vítima está isolada. Flávio não estará.
O crime organizado como ator político
Não podemos nos esquecer do papel do crime organizado. Hoje em dia, uma parcela razoável da população está sob o comando direto de facções. E hoje, facções controlam eleições e alocam políticos com diferentes ideologias para ajudar nos seus interesses.
Não é só isso. Ao controlar território, também controlam zonas eleitorais, pedem votos para determinados políticos que podem avançar suas agendas e proíbem comícios de políticos adversários que defendam a segurança pública.
Hoje as facções não apenas vendem drogas, como também combustíveis, lavam dinheiro em fintechs e possuem o seu próprio sistema judiciário. Hoje elas não apenas cobram taxas e serviços, como também servem de tribunal comunitário, resolvendo desde dívidas de drogas até crises de relacionamento. São juízes cujo poder vem das armas, não de votos. E a direita precisará se preocupar com isso, já que terá territórios inacessíveis para suas campanhas e terá um forte adversário fazendo campanha contra, como pode ser visto nesse artigo de O Editorial de 2022:
VOTO AMEDRONTADO: COMO A ESPIRAL DO SILÊNCIO DO CRIME AFETA O VOTO DO BRASILEIRO
São duas horas da tarde do dia 17 de setembro de 2022. Uma equipe de um certo candidato conservador e liberal de São Paulo está preparando um evento num bairro da Baixada Santista.
A ajuda internacional nesse sentido nunca foi tão importante como será em 2026.
O cenário caótico
Existe a possibilidade de Lula não chegar ao segundo turno. O escândalo do INSS, as suspeitas sobre Lulinha, o desgaste natural de um terceiro mandato podem implodir a candidatura petista. Nesse cenário, a direita enfrentaria um candidato de “centro” no segundo turno, possivelmente alguém apresentado como alternativa à “polarização”.
Esse cenário é, paradoxalmente, mais perigoso que o enfrentamento direto com Lula.
Contra Lula, a escolha é clara. Contra um candidato de centro, a elite liberal tentará apresentar a disputa como “moderação versus extremismo”. Os “intergalácticos”, que se dizem contra a polarização, migrarão para o centro. A Faria Lima financiará a campanha do centro com entusiasmo.
A estratégia, nesse caso, é não cair na armadilha. O candidato de centro será, necessariamente, um candidato do sistema. Terá os mesmos financiadores, os mesmos apoiadores midiáticos, os mesmos compromissos com as elites que controlam o bolo. A tarefa da direita será expor essa verdade. Mostrar que a diferença entre Lula e o “centro” é apenas de embalagem, não de conteúdo.
Flávio Bolsonaro, com seu sobrenome e sua trajetória, é o candidato ideal para fazer essa denúncia. Ninguém poderá acusá-lo de ser parte do sistema. Ninguém poderá dizer que ele negocia com os confeiteiros.
O otimismo necessário
Existe uma tentação, na direita brasileira, ao derrotismo. A sensação de que o sistema é invencível. De que não adianta lutar. De que Bolsonaro tentou e fracassou, logo qualquer tentativa futura também fracassará.
Essa tentação deve ser rejeitada.
Bolsonaro não fracassou. Bolsonaro foi derrubado. São coisas diferentes. Fracasso implica incapacidade. Derrubada implica resistência enfrentada. Bolsonaro enfrentou a resistência mais brutal já mobilizada contra um presidente brasileiro. Enfrentou pandemia, lockdowns, CPIs, inquéritos, bloqueios judiciais, sabotagem burocrática, mídia unânime, Big Tech alinhada, fundações estrangeiras financiando a oposição. E mesmo assim obteve 49% dos votos válidos em 2022.
Se isso é fracasso, o que seria sucesso?
A candidatura de Flávio Bolsonaro é a continuidade dessa luta. Não a repetição. Continuidade. Com as lições aprendidas. Com os erros identificados. Com aliados internacionais que não existiam em 2022. Com um movimento popular testado e endurecido pela perseguição.
A cereja e o bolo, revisitados
Olavo estava certo: sem o bolo, a cereja não se sustenta. Mas Olavo também reconhecia que a construção do bolo exige décadas. Portanto, é um jogo que continuará, mesmo após 2030. E seria importante a direita alinhar estratégias de curto prazo com as de longo prazo se ocupar uma parte maior do sistema.
A estratégia de curto prazo para 2026 é, portanto, dupla. Disputar a cereja com todas as forças, sabendo que a vitória é possível e que o cenário internacional favorece. E, simultaneamente, conquistar fatias do bolo através do Congresso, dos governos estaduais, das assembleias legislativas, das universidades, das organizações da sociedade civil.
Se Flávio Bolsonaro vencer a Presidência, teremos a cereja e parte do bolo. Se Flávio Bolsonaro perder a Presidência, mas a direita ampliar sua bancada no Congresso, especialmente no Senado, e consolidar seus governos e assembleias estaduais, teremos mais bolo do que tínhamos antes. E mais bolo significa melhores condições para a próxima disputa pela cereja.
A pergunta nunca foi “cereja ou bolo”. A pergunta sempre foi “como conquistar os dois simultaneamente, sabendo que um fortalece o outro?” Ou, ao menos, como dar início a um processo mais longo que, de fato, redistribua as proporções de ideologia em diversos locais onde hoje só há uma ideologia.
Conclusão: uma eleição entre adversários
A escolha de Flávio Bolsonaro garante uma coisa que Tarcísio não garantiria: uma eleição entre adversários, não entre compadres.
Flávio contra Lula é direita contra esquerda. Flávio contra um candidato de centro é direita contra sistema. Em qualquer cenário, as linhas estão claramente traçadas. Não há confusão. Não há ambiguidade. Não há espaço para acordos de bastidor que entreguem o país aos mesmos de sempre.
A Faria Lima preferia Tarcísio porque Tarcísio poderia ser absorvido. Os confeiteiros do bolo podiam negociar com Tarcísio. Podiam oferecer apoio em troca de continuidade. Podiam manter o sistema funcionando sob nova gerência.
Com Flávio, isso não é possível. Com Flávio, é tudo ou nada. Vitória ou derrota. Sem meio-termo.
E é exatamente assim que deve ser.
Quem quer transformar o Brasil não pode negociar com quem quer mantê-lo como está. Quem quer construir o bolo não pode entregar a receita aos confeiteiros do sistema. Quem quer a cereja não pode aceitar uma cereja de plástico em troca de paz com os donos da confeitaria.
Jair Bolsonaro entendeu isso. Por isso escolheu Flávio. Por isso manteve a linha. Por isso preferiu que 2026 fosse uma eleição entre reais adversários, e não de compadres.
Agora cabe a nós fazer o mesmo.





